John Dee nasceu em 13 de julho de 1527, em Londres, Inglaterra. Foi astrólogo, matemático, geógrafo e astrônomo. Também foi um incansável estudioso de Alquimia e das ciências herméticas. É conhecido como um dos ocultistas mais influentes de seu tempo e de seus sucessores.
Um inventário das posses de Dee mostra que ele foi um estudante de todas as artes e ciências. Ele tinha as obras completas de Platão e Aristóteles além de uma grande coleção de escritos Estoicos, Epicuristas, Neo-Platônicos e Renascentistas. Coletou um vasto número de manuscritos sobre filosofia e ciência medievais e todo o material que pôde encontrar sobre magia e pensamento hermético. Coletou também as obras de Lutero, Calvinistas, Agostinho, Lactâncio, Boécio, Ramón Lull, Nicolau de Cusa e Erasmo. Também possuía manuscritos hebreus sobre a Kabbalah e uma cópia do Corão. Estima-se que a biblioteca de John Dee era composta por alguns milhares de volumes, quando o conjunto bibliográfico da Universidade de Cambridge não passava de quinhentos volumes.
Sabe-se que foi casado por três vezes e pai de oito filhos. Seu pai, o mercador Roland Dee, proporcionou a ele uma boa educação acadêmica em Cambridge. Suas grandes habilidades foram logo reconhecidas sendo aceito, posteriormente, entre os membros-fundadores do Trinity College de Cambridge. Em 1547, teria sido expulso de Cambridge sob acusação de bruxaria. Entre o final da década de 1540 e início da década seguinte, Dee viajou pela Europa passando por Louvain e Bruxelas, chegando também a lecionar em Paris. Neste momento de sua vida John Dee pôde acumular experiências e conhecimento sobre diversos assuntos como matemática e astronomia. Durante este período tornou-se astrólogo e ganhou a vida fazendo horóscopos o que lhe rendeu uma prisão por conspiração mágica contra a vida da Rainha Mary Tudor. Mais tarde, a então rainha Elizabeth libertou-o da prisão e o encarregou de missões misteriosas no continente. Elizabeth assumiu o trono em 1558, e Dee tornou-se seu conselheiro para questões astrológicas e científicas. Inclusive foi ele próprio quem ficou incumbido de escolher o dia da cerimônia de sua coroação.
Em seu retorno à Inglaterra, teve a oportunidade de lecionar em Oxford, em 1554. Porém, recusou a oferta por não concordar com a postura das universidades frente às disciplinas mais relevantes. Nesta mesma época, mais do que apoio financeiro para dar prosseguimento aos seus estudos, Dee recebeu também da Duquesa de Northumberland (um condado situado ao norte da Inglaterra), o antigo e misterioso manuscrito Voynich (um misterioso livro ilustrado com um conteúdo incompreensível. Imagina-se que tenha sido escrito há aproximadamente 600 anos por um autor desconhecido que se utilizou de um sistema de escrita não-identificado e uma linguagem ininteligível. É conhecido como “o livro que ninguém consegue ler”).
A partir de aproximadamente 1580 a vida de John Dee tomou outros rumos. Foi nesse período que seu contato com o ocultismo se tornou mais frequente e profundo. Tudo começou quando Dee, imerso em orações, teria recebido a visita do anjo Uriel, que lhe ofereceu uma espécie de espelho de cristal que permitia a Dee visualizar mundos espirituais e outras formas de inteligência.
Dee recrutou dois auxiliares para ajudá-lo na observação e interpretação das imagens surgidas no espelho: Barnabas Saul e Edward Kelley. Saul foi dispensado pouco depois de haverem suspeitas de que ele estava, na verdade, os espionando. Dee e Kelly deram continuidade aos estudos, juntos.
Edward Kelley era mais de vinte anos mais novo que Dee e trazia um histórico de vida polêmico e inconstante. Kelley era um habilidoso calígrafo que usava seus talentos para falsificar documentos. Por causa disso foi preso várias vezes e teve as orelhas amputadas. Certa vez, quando estava na região de Glastonbury, Kelley recebeu de um amigo um tratado que abordava princípios alquímicos como a transmutação do metal em ouro; além de substâncias em pó que seriam as “tinturas da filosofia hermética“. Tanto o manuscrito quanto as substâncias teriam sido encontradas no momento da violação de um túmulo de um bispo católico da região. Portanto, neste momento, Kelley já trazia uma considerável bagagem no mundo dos estudos ocultistas.
Juntos, Kelley e Dee conseguiram progressos significativos através de rituais de purificação e transe, telepatia e clarividência. O próprio Dee teria afirmado que muitos de seus manuscritos haviam sido ditados por anjos durante suas práticas, alguns em uma espécie de língua angélica ou enochiana.
Em 1583, Dee e Kelley, acompanhados de seus familiares, viajaram à Polônia atendendo ao convite do nobre Albert Laski. A intenção de Laski era que os ocultistas pudessem produzir ouro através dos processos alquímicos. Sem sucesso e com as finanças de Laski em ruínas Dee e Kelley começaram uma vida nômade na Europa central, mas continuaram suas conferências espirituais, que Dee registrou meticulosamente. Tiveram audiências com o imperador Rodolfo II e com o rei Stefan I de Polônia e tentaram convencê-los da importância de suas comunicações angélicas. Foram ignorados por ambos os monarcas.
Instalam-se em Praga na segunda metade da década de 1580. Decepcionado por não conseguir desvendar o manuscrito Voynich, Dee o entregou ao Conde Rodolfo II. Ainda entraram em contato com monarcas na intenção de obter apoio e respaldo de suas teorias ocultistas, entretanto, não foram bem sucedidos.
Por volta de 1587 houve uma situação curiosa. Durante uma conferência espiritual na Boêmia, Kelley disse a Dee que o anjo Uriel ordenou que os dois homens compartilhassem suas esposas. Kelley, que nessa época estava se tornando um alquimista proeminente e era muito mais procurado que Dee, pode ter desejado usar isto como uma maneira de acabar com as conferências espirituais. A ordem provocou em Dee uma profunda angústia, mas ele não duvidou de sua autenticidade e aparentemente deixou que ela fosse em frente, mas pouco depois abandonou as conferências e não voltou a ver Kelley. Dee retornou a Inglaterra em 1589.
Ao retornar ao país de origem, Dee deparou-se com sua biblioteca totalmente abandonada e arruinada. Seus instrumentos de astronomia e astrologia foram furtados e saqueados por aqueles que atribuíam à Dee a condição “bruxo maligno”. Posteriormente, por volta de 1592, buscou auxílio com a Rainha Elizabeth, sua antiga conselheira, que por sua vez o encaminhou para a cidade de Manchester, para atuar como diretor do Christ’s College. Entretanto, neste momento, Dee já não desfrutava de boa fama. Era visto como um ocultista de índole duvidosa. Esse fator certamente contribuiu para que recebesse desprezo por parte de seus companheiros de trabalho e o inevitável insucesso de sua nova ocupação. A esta altura Dee já se aproximava dos oitenta anos de vida. Enfermo e debilitado, passou seus últimos anos de vida na pobreza em Mortlake, onde morreu ou no fim de 1608 ou início de 1609.
Infelizmente, tanto sua lápide quanto qualquer documento que ateste seu óbito são desconhecidos. Atualmente, o Museu Britânico abriga diversos objetos de uso pessoal de Dee. A maioria relacionados às suas práticas ocultistas como uma esfera de cristal, um espelho, um amuleto e selos. O espelho mágico teria sido recolhido pelo Conde de Peterborough e, anos mais tarde, chegado às mãos do escritor Horace Walpole.