Michel de Nostredame (ou Miquèl de Nostradama) nasceu em Saint-Rémy-de-Provence, na França, em catorze de dezembro de 1503 e morreu em Salón-de-Provence no ano de 1566. Seu nome foi latinizado para “Nostradamus” e assim ficou conhecido.
Foi criado pelo avô que era médico, cabalista e um grande conhecedor da Astrologia que ainda na sua infância lhe passou estes conhecimentos. Além disso, Nostradamus formou-se como mestre em Artes, estudou Literatura, História, Filosofia, Gramática e Retórica. Era fluente em latim, hebraico e grego além de seu idioma oficial, francês. Aos vinte anos já cursava medicina em Montpellier e formou-se em 1533 como doutor.
Poucos sabem que ele teve uma vida secreta e regrada pela Alquimia. Seguiu à risca todos os preceitos alquímicos, exceto aquele que pede aos alquimistas que sejam pessoas discretas e que preservem o anonimato de seus trabalhos e identidade. A fama veio quando ainda era muito jovem e formado como médico, após desenvolver e inventar métodos próprios de cura. Nostradamus sempre contestou a ortodoxia do pensamento médico ensinado nas Universidades naqueles tempos.
Apoiado pelo alquimista Julius Caesar Scaliger que o levou a conhecer suas pesquisas alquímicas, iniciou seus estudos herméticos ainda jovem e durante o período em que morou na casa de Julius conheceu Marie Auberligne, grande estudiosa dos assuntos ocultos e auxiliar de Scaliger em seus experimentos e casou-se com ela. Eles tiveram dois filhos. Nostradamus utilizava escondido a biblioteca de Scaliger pois nesse tempo era proibida qualquer prática alquímica. A alquimia era vista com maus olhos e os seus praticantes eram queimados vivos na fogueira.
Nostradamus foi um dos principais médicos a se envolver no combate à terrível Peste Negra (ou Peste Bubônica) que devastou a Europa, especialmente no sul da França, na primeira metade do século XVI. A doença foi transmitida através de pulgas e roedores (ratos, ratazanas, coelhos, marmotas, esquilos) e era altamente contagiosa e dolorosa. Muitas vezes causava delírio e deixava grandes pústulas negras nos corpos das vítimas, daí o seu nome “Peste Negra”. Os pacientes de Nostradamus pareciam sobreviver mais do que os pacientes dos demais médicos da região quando infectados pela Peste e outras doenças e sua primeira grande fama veio a partir deste fato.
Quando houve a epidemia sua mulher e filhos contraíram a doença e faleceram. Ocupado demais com a cura da população, ele não conseguiu salvar a própria família. Este acontecimento o fez questionar suas capacidades enquanto médico e, decepcionado consigo mesmo, viajou pela Europa sem destino, em depressão e isolamento, provavelmente através da Itália e outras partes da França, durante seis anos. Foi nessa altura que se deu conta de seus poderes proféticos.
Viajou para Provence por um período, local onde morava seu irmão que era prefeito da cidade para combater novamente a epidemia de Peste. Obteve ótimos resultados na cura da doença, utilizou técnicas e conhecimentos que anteciparam em 300 anos as descobertas de Louis Pasteur (cientista francês que fez descobertas que tiveram uma grande importância tanto na área de Química quanto na de Medicina. Foi ele quem criou a técnica conhecida hoje como “pasteurização”.). Nostradamus associou a transmissão da peste a microrganismos e passou a desinfetar os doentes, as ruas e casas, cremar os mortos e suas roupas infectadas, além de desenvolver medicamentos para animais e vegetais.
Na época ficou muito famoso por conseguir curar tantas pessoas da peste utilizando técnicas de limpeza do corpo e ministração de vitamina C aos doentes, porém apenas décadas mais tarde viria a sua maior fama e que persiste até os dias de hoje, quando publicou as “Profecias de Michel Nostradamus”: a fama de “vidente”.
Nostradamus revelou ser capaz de prever o futuro através de uma combinação de estudos astrológicos e inspirações divinas. Em 1550, publicou seu primeiro almanaque que continha previsões gerais para cada mês do ano. Nostradamus geralmente tinha suas visões a noite, enquanto olhava para a água ou para o fogo, às vezes auxiliado por estimulantes à base de plantas. A maioria de suas profecias permite múltiplas interpretações. As combinações de vários idiomas diferentes escritos como enigmas, anagramas e epigramas são muito complexas e exigem um intérprete que contenha conhecimentos em várias áreas. Alguns trechos são obscuros e descrevem eventos específicos, localizações geográficas, configurações astrológicas, etc.
A previsão que o tornou mais famoso na época foi o anúncio da morte do rei da França, Henrique II, em um duelo a cavalo. Esta profecia se concretizou três anos depois de ser revelada. Com suas centúrias conquistou a admiração da rainha Catarina de Médici, esposa de Enrique II, obtendo assim sua proteção e conseguindo escapar da Santa Inquisição.
As profecias foram reunidas em dez Centúrias (uma série de dez partes de previsões a longo prazo. O trabalho foi dividido em dez séculos, com cada século constituído de cem quartetos proféticos ou quatro linhas de versos.). As Centúrias não seguem coerência cronológica e foram escritas, conforme falamos acima, combinando francês arcaico, grego, latim, provençal, anagramas, referências mitológicas e astrológicas, tudo numa linguagem subjetiva e através de metáforas que dificulta a compreensão. Alguns estudiosos afirmam que esse foi um recurso utilizado por Nostradamus para também se esquivar da Santa Inquisição e tentar passar despercebido. Com as Centúrias o vidente logo passaria a ser visto como alguém especial, que tinha algo misterioso em seu caráter e estranhos segredos.
Na mais antiga edição de suas Profecias, quando estas surgiram em 1555, encontramos várias alusões claras ou indiretas à Alquimia, havendo dezenas de quadras onde ela se esconde por detrás de alegorias (imagens aparentemente sem sentido aos leigos feitas de símbolos alquímicos com significados ocultos que simbolizam os pensamentos, ideias e descobertas dos alquimistas).
Este é um trecho das Centúrias e corresponde à quadra 29:
“Le sol caché eclipse par Mercure,
Ne sera mis que pour le ciel seconde:
De Vulcan Hermes sera faicte pasture,
Sol sera veu pur, rutilant e blond”.
Em tradução:
“O Sol estará eclipsado por Mercúrio,
Não estará posto senão em céu segundo:
De Vulcão Hermes será feito pastor (ou pasto),
Sol será visto puro, rutilante e dourado”.
Nesta quadra Nostradamus nos revela que Mercúrio, isto é, a Pedra que estabelece a ligação entre nosso mundo e o plano divino, está eclipsando o astro-rei, dando-nos assim a ideia de que por detrás de sua natureza esconde-se a iluminação áurea. Como para a obtenção da Pedra requer-se um trabalho paciente e constante, Nostradamus valoriza as mais corriqueiras atitudes da vida como sendo o verdadeiro caminho para a iluminação, revelando que sem nosso contínuo esforço e compromisso frente à vida, não há transformação possível. E a transformação (ou transmutação) era o um dos maiores objetivos da Alquimia.
Outras provas de que Nostradamus praticava a alquimia estão nas cartas que o profeta trocou durante anos de sua vida com outros iniciados franceses, italianos e alemães. Na Biblioteca Nacional de Paris e na Biblioteca Méjanes de Aix-en-Provence estão guardadas 51 cartas, entre enviadas e recebidas, datadas entre 1557 e 1565, nas quais Nostradamus se declara alquimista, ainda que de modo reservado para não despertar maiores problemas do que os que já tinha tido com a Santa Inquisição.
O profeta previu uma longa lista de eventos do mundo, incluindo a Revolução Francesa, o Grande Incêndio de Londres, o nascimento de Napoleão Bonaparte, o nascimento e localização de Hitler, a Primeira Guerra Mundial, a morte do presidente John F. Kennedy e da princesa Diana, entre outros. Conseguiu prever inclusive sua própria morte. Quando seu assistente lhe cumprimentou com um boa noite em 1 de julho de 1566, Nostradamus respondeu: “Você não vai encontrar-me vivo ao amanhecer”. Ele foi encontrado morto na manhã de 2 de julho de 1566. Conta-se que ele sofria de epilepsia psíquica, gota, insuficiência cardíaca e morreu em decorrência de um edema pulmonar.